NA UNIVERSIDADE, MINORIA DE GÊNERO SÃO ELES DA GRADUAÇÃO ÀS PESQUISAS MULHERES JÁ OCUPAM OS PRINCIPAIS ESPAÇOS UNIVERSITÁRIOS
EM COMUM
NA INFORMÁTICA, UM REDUTO MASCULINO
MAIORIA ENTRE PESQUISADORAS, MINORIA ENTRE LÍDERES DE GRUPO DE PESQUISA
NOVOS CENÁRIOS
Irmãs Rodrigues, Michelly, Leocádia, dona Emília, Elisabete, Jéssica... Para além de dados estatísticos, as personagens desta reportagem, cada uma ocupando ou desbravando seu espaço dentro no mundo universitário, mostram que a busca pela igualdade de gêneros ainda carece de muitos avanços. Mas mostram também que a educação continua sendo uma das principais estratégias de superação das desigualdades de gênero no Brasil. Os últimos anos só têm dado razão ao seu João, quando, perto de suas meninas, apontava o dedo em direção da escola, como o melhor caminho de superação. O caminho continua disponível, e que bom que tantas mulheres têm andado por ele. Início do expediente e começam a chegar na UEMS os técnicos administrativos que integram a Diretoria de Informática. Entram um, dois, três, quatro... até o décimo terceiro profissional. Todos homens. Em uma sala a parte, cercada de demandas de todas os 15 campi universitários, a única mulher do setor é quem recebe o título de diretora. Aos 37 anos, Jéssica Bassani de Oliveira representa bem a entrada da mulher em ambientes profissionais tradicionalmente masculinos. Ela chefia treze homens na Diretoria de Informática e dá aulas em Ciência da Computação, curso com apenas 11% de mulheres entre todos os matriculados. “No começo ficava um pouco receosa, mas hoje não, é de igual para igual. Não vejo diferença”, conta sobre quando assumiu a Diretoria. Mas não é sempre que sua atuação em um setor predominantemente masculino soa tão natural. Ela conta que quando fala para as pessoas que é chefe de um setor que só tem homens, as perguntas revelam curiosidade: - Elas falam ‘nossa, mas como você dá conta?!’, ‘Que diferente, hein’, porque acham incomum. Perguntam como é, ficam curiosas para saber, ‘eles concordam com você?’. Para mim é normal a relação, acho que não tem diferença o sexo neste caso. Assim é o meu ponto de vista. Segundo Jéssica, a mulher tem que demonstrar segurança e domínio de conhecimento sobre o que está fazendo. “Nunca senti preconceito, mas às vezes dá a impressão de que eles acham que você não é capaz, mas foram poucas vezes e eu me adaptei bem. Na área de exatas a mulher tem que mostrar o domínio mais ainda, porque eles vão te perguntar, assim como já aconteceu comigo em vários lugares que eu já trabalhei, ‘e aí, como faz isto ou aquilo?’, para ver se eu tenho domínio da situação ou não”, lembra Segundo dados da Diretoria de Registro Acadêmico da UEMS, em 2015, cursos relacionados à informática e tecnologias eram os que possuíam menor presença de mulheres. Uma representatividade feminina que, ao contrário da maioria dos indicadores apresentados ao longo desta reportagem, vem caindo ainda mais nesses tipos de curso. E 2003, na UEMS, 23,3% dos matriculados em cursos ligados à informática eram mulheres. Número que caiu para 20,9% em 2014 e para 16,1% em 2015, revelando um crescente desinteresse das mulheres no ingresso em cursos de informática. Os dados nacionais caminham na mesma direção. Segundo o INEP (Instituto Nacional de Pesquisa e Estudos), em 2001, 20,1% dos matriculados em cursos de Tecnologia da Informação no Brasil eram mulheres. O número caiu para 15,2% em 2014. Se números não deixam dúvidas da forte presença feminina entre estudantes universitários, seja no ingresso ou na conclusão, nos principais espaços profissionais da educação superior a reviravolta no jogo dos gêneros continua. Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no ano 2000, 56% dos pesquisadores cadastrados eram homens. Já em 2016, o cenário mudou e atualmente as mulheres ocupam 50,4% dos postos de pesquisa acadêmica. Na UEMS este quadro não é diferente, segundo dados do DRA da UEMS, de 2017, a maioria dos alunos da pós-graduação stricto sensu da Universidade são mulheres, no Mestrado Acadêmico elas são 62%, no Mestrado Profissional 63.5% e no doutorado, 73,75%. Sendo que no Doutorado em Recursos Naturais tem 21 mulheres e apenas dois homens. E se forem considerados os pesquisadores em formação, tudo indica que a maioria feminina nesse campo se ampliará nos próximos anos. Entre todas as bolsas distribuídas para iniciação científica no País, destinadas a estudantes ainda na graduação, como uma forma de preparação para o mundo das pesquisas, 59% tem ido para estudantes mulheres. Em relação às bolsas para mestrado e doutorado, elas recebem hoje 52% e 51% respectivamente, índice que aumenta para 58% em bolsas de pós-doutorado. Elisabeth Rocha Correa, de 24 anos, é uma das bolsistas de mestrado que compõem estes dados da Capes. Ela cursou Ciências Biológicas na UEMS de Dourados e atualmente faz mestrado em Recursos Naturais. Desde a graduação se encantou pela pesquisa, inspirada pelos professores. “Na minha turma a maioria é mulher e nós mulheres estamos cada vez mais atuantes na sociedade e no meio científico, pois trazemos um toque especial. Porque a mulher se interessa mais, ela tem um cuidado maior, ela é mais rígida, é mais crítica com o trabalho que se faz, não tem tanto aquela praticidade que talvez seria o trabalho de um homem”. Elisabeth acrescenta que na área dela às vezes acontecem algumas dificuldades por conta do gênero, “por exemplo, em trabalhos de campo de ficar 45 dias na Amazônia, então acredito que eles escolham mais homens, porque talvez pensem que a mulher não dá conta disso, mas eu só tive exemplos de mulheres fortes, a mulher é tão capaz quanto o homem”, ressalta. Nesse contexto, os homens são maioria apenas entre os que recebem bolsas de produtividade em pesquisa, modalidade que, segundo o CNPq, é “destinada aos pesquisadores que se destaquem entre seus pares, valorizando sua produção científica segundo critérios normativos, estabelecidos pelo CNPq, e específicos, pelos Comitês de Assessoramento (CAs) do CNPq”. Apesar de serem minoria numérica entre pesquisadores brasileiros, os homens continuam ocupando a maior parte dos postos de liderança de grupos de pesquisa e bolsas internacionais. Segundo o CNPq, no ano 2000 de cada 100 grupos de pesquisa registrados, 60 eram liderados por homens e 40 por mulheres. Em 2016, a diferença diminuiu e, atualmente, 46,6% dos grupos de pesquisa são hoje liderados por mulheres. Para a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UEMS, Luciana Ferreira, uma das justificativas para o fato de mulheres serem maioria entre pesquisadores, mas minoria entre líderes de grupos de pesquisa e bolsistas no exterior, está em casa. Segundo Luciana, nas últimas décadas as mulheres conquistaram espaços importantes no mercado de trabalho, mas continuaram ocupando papel de liderança no âmbito familiar, caracterizando, em muitos casos, a alarmante realidade da dupla jornada de trabalho. “Liderar um grupo de pesquisa certamente exige uma maior disponibilidade de tempo, assim como sair do país com bolsa requer toda uma organização familiar interna, responsabilidade que, mesmo com todos os avanços das últimas décadas, ainda recai sobre a mulher”, explica a pró-reitora. Entre professores está o cenário mais equilibrado da representatividade dos gêneros na Universidade. Em Mato Grosso do Sul, segundo último levantamento divulgado pelo Inep em 2015, a diferença da presença de docentes homens e mulheres no ensino superior é de apenas 0,4% atrás, sendo 2.859 professoras e 2.872 professores. Uma situação diferente, por exemplo, de 2001, quando a diferença era de 14,58% a mais em número de professores homens em MS. No contexto mais amplo do Centro Oeste, o número de docentes também é um dos poucos em que se registra maioria masculina, sendo 52% em instituições públicas e 54% em privadas. Na universidade o jogo das representações de gênero tem mudado consideravelmente. Em relação aos concluintes a diferença é expressiva, com mulheres se formando 49% mais que os homens. O Norte registra a maior predominância feminina entre concluintes (diferença de 66,05% a mais que homens), enquanto no Centro-Oeste verifica-se o maior equilíbrio entre os gêneros entre os que se formam, ainda que também com vantagem feminina (diferença de 54,9%). Esse cenário é confirmado por Leocádia Aglaé Petry Leme, que ao longo de sua trajetória profissional acumula experiência como reitora em três universidades com diferentes perfis administrativos: uma pública, uma privada e uma privada de capital aberto. Atualmente à frente da Anhanguera Uniderp, a quarta IES brasileira com o maior número de alunos, Leocádia acredita que os últimos anos têm mostrado com clareza a forma como as mulheres vêm se destacando na educação superior. “Medicina por exemplo que sempre foi um reduto que os meninos passavam, agora as meninas são em número maior, Direito o número também maior de mulheres. Nas Engenharias é onde demorou mais para as mulheres entrarem, mas já está quase no mesmo ritmo”, conclui. De fato, as engenharias costumam registrar um número menor de mulheres. Mas elas também têm aumentado a presença por lá. A Michelly dos Santos Lemes, por exemplo, resolveu encarar Engenharia Física na UEMS e não tem encontrado muita dificuldade em seguir na graduação na parte pedagógica, apesar de temer o futuro após a formatura. “Tem industrias que não acreditam que uma mulher pode liderar uma equipe de homens, mas é claro que ela pode!”, afirma Michelly. A jovem, de 18 anos, é conhecida na Universidade para além de sua sala de aula. Todos os dias ela percorre os corredores vendendo salgados feito pela tia e distribuindo sorrisos. Uma forma de auxiliar no orçamento da família e garantir a permanência ao longo da graduação. E é no mesmo tom bem-humorado que transparece ao vender os salgados que ela tece reflexões contundentes sobre a representatividade da mulher na sociedade. “Desde muito tempo a mulher tem assumido vários papéis, dona de casa, mãe... e hoje ela pode ser tudo o que ela quiser. Eu por exemplo escolhi Engenharia Física. Se eu quiser ser astronauta, por que não?! Eu posso ser dona de casa, qual o problema?! Não é que esteja tentando me esconder do preconceito que ainda existe, mas é uma escolha que vem da mulher. Ela pode ser quem ela quiser!” Quando analisados isoladamente os tipos de cursos de nível superior (bacharelados, licenciaturas e cursos tecnológicos), mais uma vez as mulheres ocupam uma maior fatia das cadeiras universitárias. Isto fica bastante evidente entre os cursos de licenciatura, responsáveis pela formação dos professores e educadores brasileiros. No Centro-Oeste, por exemplo, segundo o Inep, do total de licenciados formados, 71,6% são mulheres, contra apenas 28,4% homens, no levantamento de 2012. Emília Ribeiro da Silva, aos 67 anos, decidiu enfrentar a licenciatura em Letras Português/Espanhol. Ela estava há quase 50 anos sem estudar. Como tantas mulheres, dona Emília, como é carinhosamente chamada pelos colegas, logo cedo teve que sustentar casa e filhos. O dinheiro do mês ainda é conquistado com a venda de quitutes que ela mesmo prepara, há cerca de 40 anos. “Voltei a estudar depois dos filhos formados. A idade não atrapalha nem dificulta, o problema é que fiquei muito tempo fora da sala de aula, mas ainda está em tempo de corrigir. Tem que ter coragem, arriscar, porque ter medo é pior! É muito bom estudar”, reforça a estudante que já planeja ingressar no mestrado e doutorado. Apesar dos indicadores que mostram a forte presença feminina na educação, elas ainda recebem menos do que os homens para desempenhar as mesmas atividades. É o que apontam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014. A pesquisa, realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais de idade, 18,8% possuem Ensino Superior completo., enquanto para homens, na mesma categoria, esse percentual vai para 11%. A pesquisa indica ainda que as mulheres são maioria para Ensino Médio completo ou Superior incompleto: 39,1% das mulheres se enquadram nessa categoria, contra 33,5% dos homens. Para as mulheres, no entanto, maior escolaridade e presença nos cursos de qualificação não se traduz em maiores rendimentos, e essa diferença se amplia conforme aumenta a escolarização. As mulheres com cinco a oito anos de estudo receberam por hora, em média, R$ 7,15, e os homens, com a mesma escolaridade, R$ 9,44. Para 12 anos de estudo ou mais, essa diferença na remuneração vai a 33,9%, com R$ 22,31 para mulheres e R$ 33,75 para homens.

Em Mato Grosso do Sul faz muito calor. E foi debaixo do sol quente do cerrado que tantas vezes o “seu” João José Rodrigues juntou perto de si as três filhas, apontou o indicador para a mesma escola e disse:

 

- Estão vendo aquela escola? Vocês têm que estudar para trabalhar aqui. Aqui precisa de professor. Estudem, estudem! Porque nesta vida se temos terra, a gente pode perder, se temos um carro bom a gente pode perder também, mas o estudo, minhas filhas, jamais, jamais!

 

Nas vezes que o indígena cortador de cana repetia esta cena, narrada pela filha Cristiane, acompanhada pelas irmãs Sonia e Sandra, ele provavelmente não tinha em mãos os indicadores a que temos acesso hoje sobre a dificuldade que as mulheres ainda encontram para ascenderem profissionalmente no Brasil. Provavelmente não sabia que, segundo o último levantamento publicado pelo IBGE, apesar de representarem a maioria da população brasileira, as mulheres continuam minoria (45,1%) entre o que Instituto chama de população “ocupada”.

 

O que seu João sabia é o que ele testemunhava no dia a dia ensolarado de Mato Grosso do Sul: o mercado de trabalho, que é difícil para todos, seria ainda mais para suas filhas. Mas o dedo apontado para a escola nunca saiu do norte das irmãs Rodrigues. Inspiradas pelo conselho do pai e apoiando-se umas às outras, enfrentaram todos os desafios e se formaram, as três, em Letras (habilitação em Português/Inglês) pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Atualmente todas estão empregadas, lecionando em escolas de Dourados.

 

Seu João, que faleceu há 14 anos, certamente ficaria feliz em ver que elas andaram pelo caminho que ele insistentemente apontava. Segurando o choro, Cristiane lembra: “Quando peguei o diploma passou um filme na minha cabeça”, faz uma breve pausa, respira fundo e continua, “de tudo que vivemos, de todas as dificuldades, de estar recebendo um certificado por quatro anos de estudo, de esforço, de muita dedicação. É um sonho realizado, para mim foi muito emocionante. É inexplicável, só sentindo mesmo!”.

 

Números da desigualdade

 

Na Universidade, as irmãs Rodrigues entraram também em um dos poucos espaços sociais em que as mulheres têm avançado, nas últimas décadas, rumo ao tão sonhado, e batalhado, tratamento igualitário entre os gêneros.

 

Da graduação ao mundo das pesquisas acadêmicas, a universidade brasileira hoje é um espaço predominantemente feminino. Mas não foi sempre assim. No ano de 1956 as mulheres eram apenas 26% entre estudantes universitárias matriculadas, mas já em 1971 esse índice subiu para cerca de 40 %, segundo dados publicados pelo Grupo Estratégico de Análise da Educação Superior/Fundação Ford, em 2014. E atualmente, segundo o último levantamento do Inep, publicado em 2015, para cada 100 estudantes de nível superior 56 já são do sexo feminino.  Do total de 91.739 estudantes matriculados as mulheres somam 51,4 mil.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na frieza dos números esse cenário não deveria representar nenhuma novidade digna de abordagem jornalística. Afinal, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, divulgada pelo IBGE em 2013, elas representam 51,4 % da população brasileira. Mas se nos números elas estão lá, em outros espaços, particularmente nas instâncias de poder e liderança, nem tanto.

 

Exemplo disso está nas mais altas estruturas do poder público brasileiro, aquelas que o brasileiro acompanha no noticiário diariamente. No Superior Tribunal Federal são duas ministras entre dez ministros. Na Câmara dos Deputados elas ainda representam só 10,72% do total de deputados. E no Senado, são 12 em um total de 81 senadores.

 

No setor privado o desequilíbrio continua. De acordo com pesquisa da International Business Report (IBR) - Women in Business, realizada pela Grant Thornton, a presença feminina em cargos de CEO aumentou de 5% em 2015 para 11% em 2016. O número de empresas com mulheres no comando financeiro (CFO) também registrou o mesmo salto, de 5% para 11%. O aumento é expressivo, mas os indicadores gerais ainda mostram discrepância entre a presença de homens e mulheres nos cargos altos. A mesma pesquisa revela, por exemplo, que em 2013, aproximadamente um terço das companhias diziam não contar com absolutamente nenhuma mulher em postos mais elevados e estratégicos. A mesma percentagem da média global de empresas sem executivas líderes hoje em dia, segundo o estudo.

 

Editor: André Mazini Redação: Eduarda Rosa e André Mazini Webdeveloper: Bruno Andrade Designer gráfico/ Produção audiovisual: Renan Guilherme Ilustração: Anderson Nishimura Realização: Assessoria de Comunicação Social/UEMS Projeto Midia Ciência/FUNDECT
NA UNIVERSIDADE, MINORIA DE GÊNERO SÃO ELES DA GRADUAÇÃO ÀS PESQUISAS MULHERES JÁ OCUPAM OS PRINCIPAIS ESPAÇOS UNIVERSITÁRIOS
EM COMUM
NA INFORMÁTICA, UM REDUTO MASCULINO
MAIORIA ENTRE PESQUISADORAS, MINORIA ENTRE LÍDERES DE GRUPO DE PESQUISA
NOVOS CENÁRIOS
Irmãs Rodrigues, Michelly, Leocádia, dona Emília, Elisabete, Jéssica... Para além de dados estatísticos, as personagens desta reportagem, cada uma ocupando ou desbravando seu espaço dentro no mundo universitário, mostram que a busca pela igualdade de gêneros ainda carece de muitos avanços. Mas mostram também que a educação continua sendo uma das principais estratégias de superação das desigualdades de gênero no Brasil. Os últimos anos só têm dado razão ao seu João, quando, perto de suas meninas, apontava o dedo em direção da escola, como o melhor caminho de superação. O caminho continua disponível, e que bom que tantas mulheres têm andado por ele. Início do expediente e começam a chegar na UEMS os técnicos administrativos que integram a Diretoria de Informática. Entram um, dois, três, quatro... até o décimo terceiro profissional. Todos homens. Em uma sala a parte, cercada de demandas de todas os 15 campi universitários, a única mulher do setor é quem recebe o título de diretora. Aos 37 anos, Jéssica Bassani de Oliveira representa bem a entrada da mulher em ambientes profissionais tradicionalmente masculinos. Ela chefia treze homens na Diretoria de Informática e dá aulas em Ciência da Computação, curso com apenas 11% de mulheres entre todos os matriculados. “No começo ficava um pouco receosa, mas hoje não, é de igual para igual. Não vejo diferença”, conta sobre quando assumiu a Diretoria. Mas não é sempre que sua atuação em um setor predominantemente masculino soa tão natural. Ela conta que quando fala para as pessoas que é chefe de um setor que só tem homens, as perguntas revelam curiosidade: - Elas falam ‘nossa, mas como você dá conta?!’, ‘Que diferente, hein’, porque acham incomum. Perguntam como é, ficam curiosas para saber, ‘eles concordam com você?’. Para mim é normal a relação, acho que não tem diferença o sexo neste caso. Assim é o meu ponto de vista. Segundo Jéssica, a mulher tem que demonstrar segurança e domínio de conhecimento sobre o que está fazendo. “Nunca senti preconceito, mas às vezes dá a impressão de que eles acham que você não é capaz, mas foram poucas vezes e eu me adaptei bem. Na área de exatas a mulher tem que mostrar o domínio mais ainda, porque eles vão te perguntar, assim como já aconteceu comigo em vários lugares que eu já trabalhei, ‘e aí, como faz isto ou aquilo?’, para ver se eu tenho domínio da situação ou não”, lembra Segundo dados da Diretoria de Registro Acadêmico da UEMS, em 2015, cursos relacionados à informática e tecnologias eram os que possuíam menor presença de mulheres. Uma representatividade feminina que, ao contrário da maioria dos indicadores apresentados ao longo desta reportagem, vem caindo ainda mais nesses tipos de curso. E 2003, na UEMS, 23,3% dos matriculados em cursos ligados à informática eram mulheres. Número que caiu para 20,9% em 2014 e para 16,1% em 2015, revelando um crescente desinteresse das mulheres no ingresso em cursos de informática. Os dados nacionais caminham na mesma direção. Segundo o INEP (Instituto Nacional de Pesquisa e Estudos), em 2001, 20,1% dos matriculados em cursos de Tecnologia da Informação no Brasil eram mulheres. O número caiu para 15,2% em 2014. Se números não deixam dúvidas da forte presença feminina entre estudantes universitários, seja no ingresso ou na conclusão, nos principais espaços profissionais da educação superior a reviravolta no jogo dos gêneros continua. Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no ano 2000, 56% dos pesquisadores cadastrados eram homens. Já em 2016, o cenário mudou e atualmente as mulheres ocupam 50,4% dos postos de pesquisa acadêmica. Na UEMS este quadro não é diferente, segundo dados do DRA da UEMS, de 2017, a maioria dos alunos da pós-graduação stricto sensu da Universidade são mulheres, no Mestrado Acadêmico elas são 62%, no Mestrado Profissional 63.5% e no doutorado, 73,75%. Sendo que no Doutorado em Recursos Naturais tem 21 mulheres e apenas dois homens. E se forem considerados os pesquisadores em formação, tudo indica que a maioria feminina nesse campo se ampliará nos próximos anos. Entre todas as bolsas distribuídas para iniciação científica no País, destinadas a estudantes ainda na graduação, como uma forma de preparação para o mundo das pesquisas, 59% tem ido para estudantes mulheres. Em relação às bolsas para mestrado e doutorado, elas recebem hoje 52% e 51% respectivamente, índice que aumenta para 58% em bolsas de pós-doutorado. Elisabeth Rocha Correa, de 24 anos, é uma das bolsistas de mestrado que compõem estes dados da Capes. Ela cursou Ciências Biológicas na UEMS de Dourados e atualmente faz mestrado em Recursos Naturais. Desde a graduação se encantou pela pesquisa, inspirada pelos professores. “Na minha turma a maioria é mulher e nós mulheres estamos cada vez mais atuantes na sociedade e no meio científico, pois trazemos um toque especial. Porque a mulher se interessa mais, ela tem um cuidado maior, ela é mais rígida, é mais crítica com o trabalho que se faz, não tem tanto aquela praticidade que talvez seria o trabalho de um homem”. Elisabeth acrescenta que na área dela às vezes acontecem algumas dificuldades por conta do gênero, “por exemplo, em trabalhos de campo de ficar 45 dias na Amazônia, então acredito que eles escolham mais homens, porque talvez pensem que a mulher não dá conta disso, mas eu só tive exemplos de mulheres fortes, a mulher é tão capaz quanto o homem”, ressalta. Nesse contexto, os homens são maioria apenas entre os que recebem bolsas de produtividade em pesquisa, modalidade que, segundo o CNPq, é “destinada aos pesquisadores que se destaquem entre seus pares, valorizando sua produção científica segundo critérios normativos, estabelecidos pelo CNPq, e específicos, pelos Comitês de Assessoramento (CAs) do CNPq”. Apesar de serem minoria numérica entre pesquisadores brasileiros, os homens continuam ocupando a maior parte dos postos de liderança de grupos de pesquisa e bolsas internacionais. Segundo o CNPq, no ano 2000 de cada 100 grupos de pesquisa registrados, 60 eram liderados por homens e 40 por mulheres. Em 2016, a diferença diminuiu e, atualmente, 46,6% dos grupos de pesquisa são hoje liderados por mulheres. Para a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UEMS, Luciana Ferreira, uma das justificativas para o fato de mulheres serem maioria entre pesquisadores, mas minoria entre líderes de grupos de pesquisa e bolsistas no exterior, está em casa. Segundo Luciana, nas últimas décadas as mulheres conquistaram espaços importantes no mercado de trabalho, mas continuaram ocupando papel de liderança no âmbito familiar, caracterizando, em muitos casos, a alarmante realidade da dupla jornada de trabalho. “Liderar um grupo de pesquisa certamente exige uma maior disponibilidade de tempo, assim como sair do país com bolsa requer toda uma organização familiar interna, responsabilidade que, mesmo com todos os avanços das últimas décadas, ainda recai sobre a mulher”, explica a pró-reitora. Entre professores está o cenário mais equilibrado da representatividade dos gêneros na Universidade. Em Mato Grosso do Sul, segundo último levantamento divulgado pelo Inep em 2015, a diferença da presença de docentes homens e mulheres no ensino superior é de apenas 0,4% atrás, sendo 2.859 professoras e 2.872 professores. Uma situação diferente, por exemplo, de 2001, quando a diferença era de 14,58% a mais em número de professores homens em MS. No contexto mais amplo do Centro Oeste, o número de docentes também é um dos poucos em que se registra maioria masculina, sendo 52% em instituições públicas e 54% em privadas. Na universidade o jogo das representações de gênero tem mudado consideravelmente. Em relação aos concluintes a diferença é expressiva, com mulheres se formando 49% mais que os homens. O Norte registra a maior predominância feminina entre concluintes (diferença de 66,05% a mais que homens), enquanto no Centro-Oeste verifica-se o maior equilíbrio entre os gêneros entre os que se formam, ainda que também com vantagem feminina (diferença de 54,9%). Esse cenário é confirmado por Leocádia Aglaé Petry Leme, que ao longo de sua trajetória profissional acumula experiência como reitora em três universidades com diferentes perfis administrativos: uma pública, uma privada e uma privada de capital aberto. Atualmente à frente da Anhanguera Uniderp, a quarta IES brasileira com o maior número de alunos, Leocádia acredita que os últimos anos têm mostrado com clareza a forma como as mulheres vêm se destacando na educação superior. “Medicina por exemplo que sempre foi um reduto que os meninos passavam, agora as meninas são em número maior, Direito o número também maior de mulheres. Nas Engenharias é onde demorou mais para as mulheres entrarem, mas já está quase no mesmo ritmo”, conclui. De fato, as engenharias costumam registrar um número menor de mulheres. Mas elas também têm aumentado a presença por lá. A Michelly dos Santos Lemes, por exemplo, resolveu encarar Engenharia Física na UEMS e não tem encontrado muita dificuldade em seguir na graduação na parte pedagógica, apesar de temer o futuro após a formatura. “Tem industrias que não acreditam que uma mulher pode liderar uma equipe de homens, mas é claro que ela pode!”, afirma Michelly. A jovem, de 18 anos, é conhecida na Universidade para além de sua sala de aula. Todos os dias ela percorre os corredores vendendo salgados feito pela tia e distribuindo sorrisos. Uma forma de auxiliar no orçamento da família e garantir a permanência ao longo da graduação. E é no mesmo tom bem-humorado que transparece ao vender os salgados que ela tece reflexões contundentes sobre a representatividade da mulher na sociedade. “Desde muito tempo a mulher tem assumido vários papéis, dona de casa, mãe... e hoje ela pode ser tudo o que ela quiser. Eu por exemplo escolhi Engenharia Física. Se eu quiser ser astronauta, por que não?! Eu posso ser dona de casa, qual o problema?! Não é que esteja tentando me esconder do preconceito que ainda existe, mas é uma escolha que vem da mulher. Ela pode ser quem ela quiser!” Quando analisados isoladamente os tipos de cursos de nível superior (bacharelados, licenciaturas e cursos tecnológicos), mais uma vez as mulheres ocupam uma maior fatia das cadeiras universitárias. Isto fica bastante evidente entre os cursos de licenciatura, responsáveis pela formação dos professores e educadores brasileiros. No Centro-Oeste, por exemplo, segundo o Inep, do total de licenciados formados, 71,6% são mulheres, contra apenas 28,4% homens, no levantamento de 2012. Emília Ribeiro da Silva, aos 67 anos, decidiu enfrentar a licenciatura em Letras Português/Espanhol. Ela estava há quase 50 anos sem estudar. Como tantas mulheres, dona Emília, como é carinhosamente chamada pelos colegas, logo cedo teve que sustentar casa e filhos. O dinheiro do mês ainda é conquistado com a venda de quitutes que ela mesmo prepara, há cerca de 40 anos. “Voltei a estudar depois dos filhos formados. A idade não atrapalha nem dificulta, o problema é que fiquei muito tempo fora da sala de aula, mas ainda está em tempo de corrigir. Tem que ter coragem, arriscar, porque ter medo é pior! É muito bom estudar”, reforça a estudante que já planeja ingressar no mestrado e doutorado. Apesar dos indicadores que mostram a forte presença feminina na educação, elas ainda recebem menos do que os homens para desempenhar as mesmas atividades. É o que apontam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014. A pesquisa, realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais de idade, 18,8% possuem Ensino Superior completo., enquanto para homens, na mesma categoria, esse percentual vai para 11%. A pesquisa indica ainda que as mulheres são maioria para Ensino Médio completo ou Superior incompleto: 39,1% das mulheres se enquadram nessa categoria, contra 33,5% dos homens. Para as mulheres, no entanto, maior escolaridade e presença nos cursos de qualificação não se traduz em maiores rendimentos, e essa diferença se amplia conforme aumenta a escolarização. As mulheres com cinco a oito anos de estudo receberam por hora, em média, R$ 7,15, e os homens, com a mesma escolaridade, R$ 9,44. Para 12 anos de estudo ou mais, essa diferença na remuneração vai a 33,9%, com R$ 22,31 para mulheres e R$ 33,75 para homens.
Editor: André Mazini Redação: Eduarda Rosa e André Mazini Webdeveloper: Bruno Andrade Designer gráfico/ Produção audiovisual: Renan Guilherme Ilustração: Anderson Nishimura Realização: Assessoria de Comunicação Social/UEMS Projeto Midia Ciência/FUNDECT
NA UNIVERSIDADE, MINORIA DE GÊNERO SÃO ELES DA GRADUAÇÃO ÀS PESQUISAS MULHERES JÁ OCUPAM OS PRINCIPAIS ESPAÇOS UNIVERSITÁRIOS
Irmãs Rodrigues, Michelly, Leocádia, dona Emília, Elisabete, Jéssica... Para além de dados estatísticos, as personagens desta reportagem, cada uma ocupando ou desbravando seu espaço dentro no mundo universitário, mostram que a busca pela igualdade de gêneros ainda carece de muitos avanços. Mas mostram também que a educação continua sendo uma das principais estratégias de superação das desigualdades de gênero no Brasil. Os últimos anos só têm dado razão ao seu João, quando, perto de suas meninas, apontava o dedo em direção da escola, como o melhor caminho de superação. O caminho continua disponível, e que bom que tantas mulheres têm andado por ele. EM COMUM
NA INFORMÁTICA, UM REDUTO MASCULINO Início do expediente e começam a chegar na UEMS os técnicos administrativos que integram a Diretoria de Informática. Entram um, dois, três, quatro... até o décimo terceiro profissional. Todos homens. Em uma sala a parte, cercada de demandas de todas os 15 campi universitários, a única mulher do setor é quem recebe o título de diretora.
Aos 37 anos, Jéssica Bassani de Oliveira representa bem a entrada da mulher em ambientes profissionais tradicionalmente masculinos. Ela chefia treze homens na Diretoria de Informática e dá aulas em Ciência da Computação, curso com apenas 11% de mulheres entre todos os matriculados. “No começo ficava um pouco receosa, mas hoje não, é de igual para igual. Não vejo diferença”, conta sobre quando assumiu a Diretoria. Mas não é sempre que sua atuação em um setor predominantemente masculino soa tão natural. Ela conta que quando fala para as pessoas que é chefe de um setor que só tem homens, as perguntas revelam curiosidade: - Elas falam ‘nossa, mas como você dá conta?!’, ‘Que diferente, hein’, porque acham incomum. Perguntam como é, ficam curiosas para saber, ‘eles concordam com você?’. Para mim é normal a relação, acho que não tem diferença o sexo neste caso. Assim é o meu ponto de vista. Segundo Jéssica, a mulher tem que demonstrar segurança e domínio de conhecimento sobre o que está fazendo. “Nunca senti preconceito, mas às vezes dá a impressão de que eles acham que você não é capaz, mas foram poucas vezes e eu me adaptei bem. Na área de exatas a mulher tem que mostrar o domínio mais ainda, porque eles vão te perguntar, assim como já aconteceu comigo em vários lugares que eu já trabalhei, ‘e aí, como faz isto ou aquilo?’, para ver se eu tenho domínio da situação ou não”, lembra Segundo dados da Diretoria de Registro Acadêmico da UEMS, em 2015, cursos relacionados à informática e tecnologias eram os que possuíam menor presença de mulheres. Uma representatividade feminina que, ao contrário da maioria dos indicadores apresentados ao longo desta reportagem, vem caindo ainda mais nesses tipos de curso. E 2003, na UEMS, 23,3% dos matriculados em cursos ligados à informática eram mulheres. Número que caiu para 20,9% em 2014 e para 16,1% em 2015, revelando um crescente desinteresse das mulheres no ingresso em cursos de informática. Os dados nacionais caminham na mesma direção. Segundo o INEP (Instituto Nacional de Pesquisa e Estudos), em 2001, 20,1% dos matriculados em cursos de Tecnologia da Informação no Brasil eram mulheres. O número caiu para 15,2% em 2014.
MAIORIA ENTRE PESQUISADORAS, MINORIA ENTRE LÍDERES DE GRUPO DE PESQUISA
Se números não deixam dúvidas da forte presença feminina entre estudantes universitários, seja no ingresso ou na conclusão, nos principais espaços profissionais da educação superior a reviravolta no jogo dos gêneros continua. Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no ano 2000, 56% dos pesquisadores cadastrados eram homens. Já em 2016, o cenário mudou e atualmente as mulheres ocupam 50,4% dos postos de pesquisa acadêmica. Na UEMS este quadro não é diferente, segundo dados do DRA da UEMS, de 2017, a maioria dos alunos da pós-graduação stricto sensu da Universidade são mulheres, no Mestrado Acadêmico elas são 62%, no Mestrado Profissional 63.5% e no doutorado, 73,75%. Sendo que no Doutorado em Recursos Naturais tem 21 mulheres e apenas dois homens. E se forem considerados os pesquisadores em formação, tudo indica que a maioria feminina nesse campo se ampliará nos próximos anos. Entre todas as bolsas distribuídas para iniciação científica no País, destinadas a estudantes ainda na graduação, como uma forma de preparação para o mundo das pesquisas, 59% tem ido para estudantes mulheres. Em relação às bolsas para mestrado e doutorado, elas recebem hoje 52% e 51% respectivamente, índice que aumenta para 58% em bolsas de pós-doutorado. Elisabeth Rocha Correa, de 24 anos, é uma das bolsistas de mestrado que compõem estes dados da Capes. Ela cursou Ciências Biológicas na UEMS de Dourados e atualmente faz mestrado em Recursos Naturais. Desde a graduação se encantou pela pesquisa, inspirada pelos professores. “Na minha turma a maioria é mulher e nós mulheres estamos cada vez mais atuantes na sociedade e no meio científico, pois trazemos um toque especial. Porque a mulher se interessa mais, ela tem um cuidado maior, ela é mais rígida, é mais crítica com o trabalho que se faz, não tem tanto aquela praticidade que talvez seria o trabalho de um homem”. Elisabeth acrescenta que na área dela às vezes acontecem algumas dificuldades por conta do gênero, “por exemplo, em trabalhos de campo de ficar 45 dias na Amazônia, então acredito que eles escolham mais homens, porque talvez pensem que a mulher não dá conta disso, mas eu só tive exemplos de mulheres fortes, a mulher é tão capaz quanto o homem”, ressalta. Nesse contexto, os homens são maioria apenas entre os que recebem bolsas de produtividade em pesquisa, modalidade que, segundo o CNPq, é “destinada aos pesquisadores que se destaquem entre seus pares, valorizando sua produção científica segundo critérios normativos, estabelecidos pelo CNPq, e específicos, pelos Comitês de Assessoramento (CAs) do CNPq”. Apesar de serem minoria numérica entre pesquisadores brasileiros, os homens continuam ocupando a maior parte dos postos de liderança de grupos de pesquisa e bolsas internacionais. Segundo o CNPq, no ano 2000 de cada 100 grupos de pesquisa registrados, 60 eram liderados por homens e 40 por mulheres. Em 2016, a diferença diminuiu e, atualmente, 46,6% dos grupos de pesquisa são hoje liderados por mulheres. Para a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UEMS, Luciana Ferreira, uma das justificativas para o fato de mulheres serem maioria entre pesquisadores, mas minoria entre líderes de grupos de pesquisa e bolsistas no exterior, está em casa. Segundo Luciana, nas últimas décadas as mulheres conquistaram espaços importantes no mercado de trabalho, mas continuaram ocupando papel de liderança no âmbito familiar, caracterizando, em muitos casos, a alarmante realidade da dupla jornada de trabalho. “Liderar um grupo de pesquisa certamente exige uma maior disponibilidade de tempo, assim como sair do país com bolsa requer toda uma organização familiar interna, responsabilidade que, mesmo com todos os avanços das últimas décadas, ainda recai sobre a mulher”, explica a pró-reitora. Entre professores está o cenário mais equilibrado da representatividade dos gêneros na Universidade. Em Mato Grosso do Sul, segundo último levantamento divulgado pelo Inep em 2015, a diferença da presença de docentes homens e mulheres no ensino superior é de apenas 0,4% atrás, sendo 2.859 professoras e 2.872 professores. Uma situação diferente, por exemplo, de 2001, quando a diferença era de 14,58% a mais em número de professores homens em MS. No contexto mais amplo do Centro Oeste, o número de docentes também é um dos poucos em que se registra maioria masculina, sendo 52% em instituições públicas e 54% em privadas.
NOVOS CENÁRIOS
Na universidade o jogo das representações de gênero tem mudado consideravelmente. Em relação aos concluintes a diferença é expressiva, com mulheres se formando 49% mais que os homens. O Norte registra a maior predominância feminina entre concluintes (diferença de 66,05% a mais que homens), enquanto no Centro-Oeste verifica-se o maior equilíbrio entre os gêneros entre os que se formam, ainda que também com vantagem feminina (diferença de 54,9%). Esse cenário é confirmado por Leocádia Aglaé Petry Leme, que ao longo de sua trajetória profissional acumula experiência como reitora em três universidades com diferentes perfis administrativos: uma pública, uma privada e uma privada de capital aberto. Atualmente à frente da Anhanguera Uniderp, a quarta IES brasileira com o maior número de alunos, Leocádia acredita que os últimos anos têm mostrado com clareza a forma como as mulheres vêm se destacando na educação superior. “Medicina por exemplo que sempre foi um reduto que os meninos passavam, agora as meninas são em número maior, Direito o número também maior de mulheres. Nas Engenharias é onde demorou mais para as mulheres entrarem, mas já está quase no mesmo ritmo”, conclui. De fato, as engenharias costumam registrar um número menor de mulheres. Mas elas também têm aumentado a presença por lá. A Michelly dos Santos Lemes, por exemplo, resolveu encarar Engenharia Física na UEMS e não tem encontrado muita dificuldade em seguir na graduação na parte pedagógica, apesar de temer o futuro após a formatura. “Tem industrias que não acreditam que uma mulher pode liderar uma equipe de homens, mas é claro que ela pode!”, afirma Michelly. A jovem, de 18 anos, é conhecida na Universidade para além de sua sala de aula. Todos os dias ela percorre os corredores vendendo salgados feito pela tia e distribuindo sorrisos. Uma forma de auxiliar no orçamento da família e garantir a permanência ao longo da graduação. E é no mesmo tom bem-humorado que transparece ao vender os salgados que ela tece reflexões contundentes sobre a representatividade da mulher na sociedade. “Desde muito tempo a mulher tem assumido vários papéis, dona de casa, mãe... e hoje ela pode ser tudo o que ela quiser. Eu por exemplo escolhi Engenharia Física. Se eu quiser ser astronauta, por que não?! Eu posso ser dona de casa, qual o problema?! Não é que esteja tentando me esconder do preconceito que ainda existe, mas é uma escolha que vem da mulher. Ela pode ser quem ela quiser!” Quando analisados isoladamente os tipos de cursos de nível superior (bacharelados, licenciaturas e cursos tecnológicos), mais uma vez as mulheres ocupam uma maior fatia das cadeiras universitárias. Isto fica bastante evidente entre os cursos de licenciatura, responsáveis pela formação dos professores e educadores brasileiros. No Centro-Oeste, por exemplo, segundo o Inep, do total de licenciados formados, 71,6% são mulheres, contra apenas 28,4% homens, no levantamento de 2012. Emília Ribeiro da Silva, aos 67 anos, decidiu enfrentar a licenciatura em Letras Português/Espanhol. Ela estava há quase 50 anos sem estudar. Como tantas mulheres, dona Emília, como é carinhosamente chamada pelos colegas, logo cedo teve que sustentar casa e filhos. O dinheiro do mês ainda é conquistado com a venda de quitutes que ela mesmo prepara, há cerca de 40 anos. “Voltei a estudar depois dos filhos formados. A idade não atrapalha nem dificulta, o problema é que fiquei muito tempo fora da sala de aula, mas ainda está em tempo de corrigir. Tem que ter coragem, arriscar, porque ter medo é pior! É muito bom estudar”, reforça a estudante que já planeja ingressar no mestrado e doutorado. Apesar dos indicadores que mostram a forte presença feminina na educação, elas ainda recebem menos do que os homens para desempenhar as mesmas atividades. É o que apontam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014. A pesquisa, realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais de idade, 18,8% possuem Ensino Superior completo., enquanto para homens, na mesma categoria, esse percentual vai para 11%. A pesquisa indica ainda que as mulheres são maioria para Ensino Médio completo ou Superior incompleto: 39,1% das mulheres se enquadram nessa categoria, contra 33,5% dos homens. Para as mulheres, no entanto, maior escolaridade e presença nos cursos de qualificação não se traduz em maiores rendimentos, e essa diferença se amplia conforme aumenta a escolarização. As mulheres com cinco a oito anos de estudo receberam por hora, em média, R$ 7,15, e os homens, com a mesma escolaridade, R$ 9,44. Para 12 anos de estudo ou mais, essa diferença na remuneração vai a 33,9%, com R$ 22,31 para mulheres e R$ 33,75 para homens.
Editor: André Mazini Redação: Eduarda Rosa e André Mazini Webdeveloper: Bruno Andrade Designer gráfico/ Produção audiovisual: Renan Guilherme Ilustração: Anderson Nishimura Realização: Assessoria de Comunicação Social/UEMS Projeto Midia Ciência/FUNDECT
NA UNIVERSIDADE, MINORIA DE GÊNERO SÃO ELES DA GRADUAÇÃO ÀS PESQUISAS MULHERES JÁ OCUPAM OS PRINCIPAIS ESPAÇOS UNIVERSITÁRIOS
EM COMUM Irmãs Rodrigues, Michelly, Leocádia, dona Emília, Elisabete, Jéssica... Para além de dados estatísticos, as personagens desta reportagem, cada uma ocupando ou desbravando seu espaço dentro no mundo universitário, mostram que a busca pela igualdade de gêneros ainda carece de muitos avanços. Mas mostram também que a educação continua sendo uma das principais estratégias de superação das desigualdades de gênero no Brasil. Os últimos anos só têm dado razão ao seu João, quando, perto de suas meninas, apontava o dedo em direção da escola, como o melhor caminho de superação. O caminho continua disponível, e que bom que tantas mulheres têm andado por ele.
NA INFORMÁTICA, UM REDUTO MASCULINO
Início do expediente e começam a chegar na UEMS os técnicos administrativos que integram a Diretoria de Informática. Entram um, dois, três, quatro... até o décimo terceiro profissional. Todos homens. Em uma sala a parte, cercada de demandas de todas os 15 campi universitários, a única mulher do setor é quem recebe o título de diretora.
Aos 37 anos, Jéssica Bassani de Oliveira representa bem a entrada da mulher em ambientes profissionais tradicionalmente masculinos. Ela chefia treze homens na Diretoria de Informática e dá aulas em Ciência da Computação, curso com apenas 11% de mulheres entre todos os matriculados. “No começo ficava um pouco receosa, mas hoje não, é de igual para igual. Não vejo diferença”, conta sobre quando assumiu a Diretoria. Mas não é sempre que sua atuação em um setor predominantemente masculino soa tão natural. Ela conta que quando fala para as pessoas que é chefe de um setor que só tem homens, as perguntas revelam curiosidade: - Elas falam ‘nossa, mas como você dá conta?!’, ‘Que diferente, hein’, porque acham incomum. Perguntam como é, ficam curiosas para saber, ‘eles concordam com você?’. Para mim é normal a relação, acho que não tem diferença o sexo neste caso. Assim é o meu ponto de vista. Segundo Jéssica, a mulher tem que demonstrar segurança e domínio de conhecimento sobre o que está fazendo. “Nunca senti preconceito, mas às vezes dá a impressão de que eles acham que você não é capaz, mas foram poucas vezes e eu me adaptei bem. Na área de exatas a mulher tem que mostrar o domínio mais ainda, porque eles vão te perguntar, assim como já aconteceu comigo em vários lugares que eu já trabalhei, ‘e aí, como faz isto ou aquilo?’, para ver se eu tenho domínio da situação ou não”, lembra Segundo dados da Diretoria de Registro Acadêmico da UEMS, em 2015, cursos relacionados à informática e tecnologias eram os que possuíam menor presença de mulheres. Uma representatividade feminina que, ao contrário da maioria dos indicadores apresentados ao longo desta reportagem, vem caindo ainda mais nesses tipos de curso. E 2003, na UEMS, 23,3% dos matriculados em cursos ligados à informática eram mulheres. Número que caiu para 20,9% em 2014 e para 16,1% em 2015, revelando um crescente desinteresse das mulheres no ingresso em cursos de informática. Os dados nacionais caminham na mesma direção. Segundo o INEP (Instituto Nacional de Pesquisa e Estudos), em 2001, 20,1% dos matriculados em cursos de Tecnologia da Informação no Brasil eram mulheres. O número caiu para 15,2% em 2014.
MAIORIA ENTRE PESQUISADORAS, MINORIA ENTRE LÍDERES DE GRUPO DE PESQUISA Se números não deixam dúvidas da forte presença feminina entre estudantes universitários, seja no ingresso ou na conclusão, nos principais espaços profissionais da educação superior a reviravolta no jogo dos gêneros continua. Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no ano 2000, 56% dos pesquisadores cadastrados eram homens. Já em 2016, o cenário mudou e atualmente as mulheres ocupam 50,4% dos postos de pesquisa acadêmica. Na UEMS este quadro não é diferente, segundo dados do DRA da UEMS, de 2017, a maioria dos alunos da pós-graduação stricto sensu da Universidade são mulheres, no Mestrado Acadêmico elas são 62%, no Mestrado Profissional 63.5% e no doutorado, 73,75%. Sendo que no Doutorado em Recursos Naturais tem 21 mulheres e apenas dois homens. E se forem considerados os pesquisadores em formação, tudo indica que a maioria feminina nesse campo se ampliará nos próximos anos. Entre todas as bolsas distribuídas para iniciação científica no País, destinadas a estudantes ainda na graduação, como uma forma de preparação para o mundo das pesquisas, 59% tem ido para estudantes mulheres. Em relação às bolsas para mestrado e doutorado, elas recebem hoje 52% e 51% respectivamente, índice que aumenta para 58% em bolsas de pós-doutorado. Elisabeth Rocha Correa, de 24 anos, é uma das bolsistas de mestrado que compõem estes dados da Capes. Ela cursou Ciências Biológicas na UEMS de Dourados e atualmente faz mestrado em Recursos Naturais. Desde a graduação se encantou pela pesquisa, inspirada pelos professores. “Na minha turma a maioria é mulher e nós mulheres estamos cada vez mais atuantes na sociedade e no meio científico, pois trazemos um toque especial. Porque a mulher se interessa mais, ela tem um cuidado maior, ela é mais rígida, é mais crítica com o trabalho que se faz, não tem tanto aquela praticidade que talvez seria o trabalho de um homem”. Elisabeth acrescenta que na área dela às vezes acontecem algumas dificuldades por conta do gênero, “por exemplo, em trabalhos de campo de ficar 45 dias na Amazônia, então acredito que eles escolham mais homens, porque talvez pensem que a mulher não dá conta disso, mas eu só tive exemplos de mulheres fortes, a mulher é tão capaz quanto o homem”, ressalta. Nesse contexto, os homens são maioria apenas entre os que recebem bolsas de produtividade em pesquisa, modalidade que, segundo o CNPq, é “destinada aos pesquisadores que se destaquem entre seus pares, valorizando sua produção científica segundo critérios normativos, estabelecidos pelo CNPq, e específicos, pelos Comitês de Assessoramento (CAs) do CNPq”. Apesar de serem minoria numérica entre pesquisadores brasileiros, os homens continuam ocupando a maior parte dos postos de liderança de grupos de pesquisa e bolsas internacionais. Segundo o CNPq, no ano 2000 de cada 100 grupos de pesquisa registrados, 60 eram liderados por homens e 40 por mulheres. Em 2016, a diferença diminuiu e, atualmente, 46,6% dos grupos de pesquisa são hoje liderados por mulheres. Para a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UEMS, Luciana Ferreira, uma das justificativas para o fato de mulheres serem maioria entre pesquisadores, mas minoria entre líderes de grupos de pesquisa e bolsistas no exterior, está em casa. Segundo Luciana, nas últimas décadas as mulheres conquistaram espaços importantes no mercado de trabalho, mas continuaram ocupando papel de liderança no âmbito familiar, caracterizando, em muitos casos, a alarmante realidade da dupla jornada de trabalho. “Liderar um grupo de pesquisa certamente exige uma maior disponibilidade de tempo, assim como sair do país com bolsa requer toda uma organização familiar interna, responsabilidade que, mesmo com todos os avanços das últimas décadas, ainda recai sobre a mulher”, explica a pró-reitora. Entre professores está o cenário mais equilibrado da representatividade dos gêneros na Universidade. Em Mato Grosso do Sul, segundo último levantamento divulgado pelo Inep em 2015, a diferença da presença de docentes homens e mulheres no ensino superior é de apenas 0,4% atrás, sendo 2.859 professoras e 2.872 professores. Uma situação diferente, por exemplo, de 2001, quando a diferença era de 14,58% a mais em número de professores homens em MS. No contexto mais amplo do Centro Oeste, o número de docentes também é um dos poucos em que se registra maioria masculina, sendo 52% em instituições públicas e 54% em privadas.
NOVOS CENÁRIOS Na universidade o jogo das representações de gênero tem mudado consideravelmente. Em relação aos concluintes a diferença é expressiva, com mulheres se formando 49% mais que os homens. O Norte registra a maior predominância feminina entre concluintes (diferença de 66,05% a mais que homens), enquanto no Centro-Oeste verifica-se o maior equilíbrio entre os gêneros entre os que se formam, ainda que também com vantagem feminina (diferença de 54,9%). Esse cenário é confirmado por Leocádia Aglaé Petry Leme, que ao longo de sua trajetória profissional acumula experiência como reitora em três universidades com diferentes perfis administrativos: uma pública, uma privada e uma privada de capital aberto. Atualmente à frente da Anhanguera Uniderp, a quarta IES brasileira com o maior número de alunos, Leocádia acredita que os últimos anos têm mostrado com clareza a forma como as mulheres vêm se destacando na educação superior. “Medicina por exemplo que sempre foi um reduto que os meninos passavam, agora as meninas são em número maior, Direito o número também maior de mulheres. Nas Engenharias é onde demorou mais para as mulheres entrarem, mas já está quase no mesmo ritmo”, conclui. De fato, as engenharias costumam registrar um número menor de mulheres. Mas elas também têm aumentado a presença por lá. A Michelly dos Santos Lemes, por exemplo, resolveu encarar Engenharia Física na UEMS e não tem encontrado muita dificuldade em seguir na graduação na parte pedagógica, apesar de temer o futuro após a formatura. “Tem industrias que não acreditam que uma mulher pode liderar uma equipe de homens, mas é claro que ela pode!”, afirma Michelly. A jovem, de 18 anos, é conhecida na Universidade para além de sua sala de aula. Todos os dias ela percorre os corredores vendendo salgados feito pela tia e distribuindo sorrisos. Uma forma de auxiliar no orçamento da família e garantir a permanência ao longo da graduação. E é no mesmo tom bem-humorado que transparece ao vender os salgados que ela tece reflexões contundentes sobre a representatividade da mulher na sociedade. “Desde muito tempo a mulher tem assumido vários papéis, dona de casa, mãe... e hoje ela pode ser tudo o que ela quiser. Eu por exemplo escolhi Engenharia Física. Se eu quiser ser astronauta, por que não?! Eu posso ser dona de casa, qual o problema?! Não é que esteja tentando me esconder do preconceito que ainda existe, mas é uma escolha que vem da mulher. Ela pode ser quem ela quiser!” Quando analisados isoladamente os tipos de cursos de nível superior (bacharelados, licenciaturas e cursos tecnológicos), mais uma vez as mulheres ocupam uma maior fatia das cadeiras universitárias. Isto fica bastante evidente entre os cursos de licenciatura, responsáveis pela formação dos professores e educadores brasileiros. No Centro-Oeste, por exemplo, segundo o Inep, do total de licenciados formados, 71,6% são mulheres, contra apenas 28,4% homens, no levantamento de 2012. Emília Ribeiro da Silva, aos 67 anos, decidiu enfrentar a licenciatura em Letras Português/Espanhol. Ela estava há quase 50 anos sem estudar. Como tantas mulheres, dona Emília, como é carinhosamente chamada pelos colegas, logo cedo teve que sustentar casa e filhos. O dinheiro do mês ainda é conquistado com a venda de quitutes que ela mesmo prepara, há cerca de 40 anos. “Voltei a estudar depois dos filhos formados. A idade não atrapalha nem dificulta, o problema é que fiquei muito tempo fora da sala de aula, mas ainda está em tempo de corrigir. Tem que ter coragem, arriscar, porque ter medo é pior! É muito bom estudar”, reforça a estudante que já planeja ingressar no mestrado e doutorado. Apesar dos indicadores que mostram a forte presença feminina na educação, elas ainda recebem menos do que os homens para desempenhar as mesmas atividades. É o que apontam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014. A pesquisa, realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais de idade, 18,8% possuem Ensino Superior completo., enquanto para homens, na mesma categoria, esse percentual vai para 11%. A pesquisa indica ainda que as mulheres são maioria para Ensino Médio completo ou Superior incompleto: 39,1% das mulheres se enquadram nessa categoria, contra 33,5% dos homens. Para as mulheres, no entanto, maior escolaridade e presença nos cursos de qualificação não se traduz em maiores rendimentos, e essa diferença se amplia conforme aumenta a escolarização. As mulheres com cinco a oito anos de estudo receberam por hora, em média, R$ 7,15, e os homens, com a mesma escolaridade, R$ 9,44. Para 12 anos de estudo ou mais, essa diferença na remuneração vai a 33,9%, com R$ 22,31 para mulheres e R$ 33,75 para homens.
Editor: André Mazini Redação: Eduarda Rosa e André Mazini Webdeveloper: Bruno Andrade Designer gráfico/ Produção audiovisual: Renan Guilherme Ilustração: Anderson Nishimura Realização: Assessoria de Comunicação Social/UEMS Projeto Midia Ciência/FUNDECT