Apresentação

A Economia e Gestão da Saúde é uma área que vem sendo desenvolvida recentemente no Brasil. Esta área compreende que, diante de recursos como equipe, estrutura e insumos limitados para a assistência em saúde, o que ocorre de forma ainda mais dramática nos países em desenvolvimento, é preciso maximizar a eficiência das ações. Para alcançar esta eficiência, os gestores de equipes de saúde precisam de ferramentas para a tomada de decisão. Quais estratégias devem ser ampliadas e quais devem ser reduzidas? Quais intervenções têm maior chance de sucesso e quais têm maiores níveis de evidência científica? Tais perguntas do cotidiano de trabalho em um dispositivo de saúde podem ser respondidas com maior embasamento quando o profissional de saúde ou o gestor entram em contato com os saberes da Economia e Gestão em Saúde.

A defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) depende da constituição de um projeto que aponte mudanças em três direções:
1 - Garantir financiamento adequado para o SUS e para outras políticas públicas;
2 - Realizar ampla reforma do modelo de gestão pública, avançando no sentido de torná-la republicana e democrática;
3 - Consolidar e estender modelo de atenção inspirado na tradição consolidada dos sistemas nacionais e públicos de saúde (CAMPOS, 2017).

Para a garantia desses preceitos, o gestor de saúde (GS) tem um papel decisivo no processo de consolidação do SUS, pois tem como responsabilidade a execução da política pública de saúde. Os autores Silva e Roquete (2013) dividem as competências do GS no conhecimento, habilidade e atitude, de acordo com a situação e contexto, que fazem parte da tríade: saber, saber-fazer e saber agir.

O enfrentamento do desafio de gestão do SUS guarda relação com iniciativas de formação de seus gestores. Os sistemas e serviços de saúde possuem especificidades e requerem a aplicação de diferentes técnicas com base em um referencial teórico-prático das áreas de administração, economia e planejamento em saúde, entre outras (CUNH; HORTALE, 2017).

Os autores André, Trench e Santelleli (2013, p.159) afirmam que “Competência é a capacidade de agir eficazmente em determinada situação, apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar a eles”. No que se refere ao aspecto técnico, se faz necessário que o gestor do SUS possa articular saberes e práticas de gestão para cumprir suas atribuições e funções, o que exigirá um conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências na área da administração pública, governança, planejamento e cuidado em saúde para execução das políticas de saúde.

Quanto ao aspecto ético, refere-se à razão pública de ser Gestor(a) do SUS, cuja responsabilidade emerge como exigência de uma ação necessariamente coletiva e pública, comprometida com o encorajamento, exercício e cultivo de uma ética de defesa e afirmação
da vida em sociedade

Nessa assertiva, os autores Gabardo et al (2017), no artigo Competências do Gestor em Serviços da Saúde: Uma Revisão Sistemática, analisaram as publicações que abordavam à temática da competência profissional dos gestores de serviços de saúde. Os resultados
encontrados apontaram que as competências do gestor de saúde estendem-se desde a gestão de custos até a gestão de conflitos, incluindo a habilidade de conciliar interesses das partes envolvidas nos processos e decisão em contexto de constante mudança. Ao gestor de saúde
pública cabe o cumprimento, formulação e reestruturação de políticas de saúde, respeitados os papéis cabíveis às esferas municipal, estadual e federal.

Nesse sentido, a proposta de Especialização em Economia da Saúde e Gestão em Saúde se amparará no Modelo de Gestão em Defesa da Vida, terá como público os profissionais da área da saúde com diferentes campos de atuação na gestão dos SUS vinculados preferencialmente a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande/MS e se consolida como uma iniciativa da Gestão Municipal em parceria com a UEMS para o fortalecimento da Governança do SUS.

O Modelo de Gestão em Defesa da Vida visa repensar a forma de organizar a atenção à saúde desde os processos macroestruturais até a micropolítica do trabalho em saúde, reinventando e formulando a clínica, saindo do ato prescritivo, da institucionalização e da
medicalização.

Nessa assertiva, a Governança no setor público compreende essencialmente os mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a atuação da gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de
serviços de interesse da sociedade (BRASIL, 2014).

Diante de tal cenário, essa proposta de Especialização partiu da experiência da SESAU em formação de gestores desde 2018, na qual realizou uma formação de 200 horas, que foi construída e executada de forma integrada com todas as superintendências, coordenações,
gerências, divisões, gabinete e assessorias, conforme necessidades do Grupo de Trabalho do Currículo Integrado em Gestão do SUS, denominado GT-Cin Gestão.

A tal experiência somam-se as articulações e aproximações com docentes do Curso de Medicina da UEMS, ora através das atividades do Módulo Integração Ensino, Serviço e Comunidade (IESC) e estágio obrigatório na Rede Municipal de Saúde de Campo Grande, e na Secretaria Municipal de Saúde atuando na Rede de Atenção Básica e Rede de Urgência desenvolvidas pelos docentes, alunos e preceptores, ora através das articulações da proposta (já aprovada) da Residência Multiprofissional em Saúde da Família, originando a referida
proposta.

Ressalta-se que esse processo formativo contribuirá diretamente para o fortalecimento das relações interinstitucionais e no fortalecimento do SUS, como campo de práticas e de formação, bem como na produção científica, além de atender diretamente nossa vocação de
formar visando a transformação da realidade.