Cooperação entre UEMS e Marinha resulta em expedições cientificas no Rio Paraguai

Por: Emmanuelly Castro | Postado em: 07/11/2022

A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e o Comando do 6º Distrito Naval da Marinha, em Ladário, firmaram um termo de cooperação que irá atender o projeto de extensão e pesquisa chamado “Expedição Rio Paraguai”. O termo assinado no dia 22 de setembro, entre o Reitor da UEMS, professos Laércio Alves de Carvalho e o Vice-Almirante Paulo César Bittencourt Ferreira, vai permitir que pesquisadores da Universidade acompanhe expedições da Marinha ao longo do rio Paraguai.

Os pesquisadores da UEMS são os primeiros a acompanharem as expedições que partem do porto de Ladário percorrendo o rio Paraguai, colhendo amostras e dados para pesquisas em diversas áreas. Duas expedições de reconhecimento da área já foram realizadas, com a participação dos pesquisadores da UEMS.

O professor Dr. Antônio Corrêa de Oliveira Filho, da UEMS de Aquidauana, que é um dos coordenadores do projeto, explica que as primeiras expedições serviram reconhecimento e diagnostico das comunidades e do bioma do rio Paraguai, possibilitando identificar cinco áreas que poderão ser trabalhadas nas pesquisas, como ictiofauna, fauna, botânica, recursos naturais, ciência sociais e saúde.

Para o Reitor da UEMS, professor Laércio Alves de Carvalho, a cooperação entre a Universidade e Marinha é muito importante para que a UEMS possa cumprir seu papel de atendimento a toda população do estado, principalmente comunidades que precisam, como os ribeirinhos. “Eu parabenizo a Marinha do Brasil por essa atendimento junto aos povos do Pantanal e agradeço essa oportunidade da UEMS participar dessa ação, essa abertura e valorização do nosso trabalho de pesquisa e de extensão. Estamos à disposição para colaborar sempre que possível, ainda mais com a oportunidade de chegar tão longe com nossa Universidade”, afirma o Reitor Laércio.

Expedição Rio Paraguai

O professor Dr. André Luiz Julien Ferraz, também da UEMS de Aquidauana, conta que o projeto Expedição Rio Paraguai surgiu com uma ideia dele e do professor Dr. Antônio Corrêa. A ideia resultou em uma visita dos dois pesquisadores à Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que realiza expedições ao longo do baixo São Francisco. As pesquisas realizadas em Alagoas levantam dados para ações de estratégicas na qualidade de vida da população ribeirinha e na preservação do meio ambiente. “Estivemos com os pesquisadores da UFAL verificamos a possibilidade de realizar esse tipo de pesquisa no Pantanal, então buscamos a cooperação da Marinha”, explica o professor André Luiz Julien.

Nas duas expedições realizadas, diversos pesquisadores recolheram dados da população ribeirinha e do bioma local. Na área de ictiofauna, o professor André Luiz, conta que foi possível a identificação de aproximadamente 60 espécies, das 300 existentes no Pantanal. O professor trouxe exemplares de peixes para pesquisa e para compor o acervo do Bioparque do Pantanal e ainda identificou outras áreas de pesquisa. “Conseguimos também verificar a possibilidade de trabalharmos com outras áreas de pesquisa que envolvem metais pesados nos peixes, parasitologia e toxicologia, entre outros, porque esses peixes são importantes na cadeia alimentas, já que são consumidos por uma parte da população, pescadores e até turistas”, explicou o professor André Luiz Julien.

A coleta de dados ao longo do rio Paraguai abriu espaço para inúmeras pesquisas, entre elas a etinobiologia. Segundo a pesquisadora Dra. Francimar Perez, da Agraer, que esteve na expedição, a etinobiologia é um instrumento de diálogo entre o saber local, o conhecimento tradicional  e o conhecimento científico, buscando  compreender e identificar  junto da comunidade local os diferentes hábitos alimentares, o uso dos recursos naturais disponíveis, desde plantas nativas até às cultivadas e seus usos na alimentação, construção de moradias, artefatos, na medicina natural, sobre  as espécies de animais e a relação com o modo de vida dos ribeirinhos também com a fauna em geral.

Junto ao professor Dr. Antônio Corrêa de Oliveira Filho, a pesquisadora Francimar Perez realizou diversas coletas de informações que servirão de base para pesquisas nas duas instituições. “Foram entrevistas aproximadamente 20 pessoas/famílias durante o estudo. Ainda na ocasião, foram realizadas coletas de plantas e abelhas nativas para identificação e classificação das espécies visando integrar o conhecimento tradicional ao científico”, explica.

O professor Dr. Antônio Corrêa de Oliveira Filho também identificou o cultivo de hortaliças com o plantio de algumas espécies em barcos velhos, para proteger das enchentes e dos animais. Segundo o professor, foi possível observar o cultivo de alface, condimentos como salsa, coentro, cebolinha, tomate, entre outros, usados para consumo próprio compondo a dieta da população ribeirinha. “Em um próxima expedição teremos a oportunidade de levar até essas comunidades espécies mais rústicas, para compor a dieta da população local”, explicou o professor Antônio Corrêa.

Além da etinobiologia, a pesquisadora Francimar Perez analisou as vegetações ribeirinhas, que são os ecossistemas que se desenvolvem nas margens dos cursos de água, caracterizadas por apresentarem comunidades vegetais das mais diversas e produtivas, gerando uma diversidade de habitats e microclimas que suportam muitas espécies. Segundo a pesquisadora, o estudo destas áreas ribeirinhas no Rio Paraguai teve com objetivo de avaliar essas comunidades vegetais, que passaram recentemente por grandes incêndios.

Análise do Solo

Além da coleta de dados, os pesquisadores retiraram amostras que serão analisadas em laboratórios da UEMS. Na primeira etapa da expedição houve a participação do Laboratório de Matéria Orgânica, Microbiologia e Gênese do Solo (LAMOMIS) da UEMS de Aquidauana, através do pesquisador doutorando Naelmo Oliveira. Segundo ele, os primeiros objetivos da expedição foram selecionar perfis de solo na margem do rio Paraguai para futuros estudos da origem desses solos e da evolução da paisagem e do clima ao longo do Quaternário (reconstrução paleoambiental). “Futuramente pretende-se coletar estes perfis selecionados e empregar técnicas de datação de carbono, isótopos estáveis, micromorfologia, mineralogia e análises de morfotipo de pólen e fitólitos”, explica Naelmo.

O pesquisador ainda apresenta um segundo o objetivo, que foi coletar amostras de solos nas margens do rio Paraguai para análises químicas e biológicas, com ênfase nas áreas de que sofreram com as queimadas recentes e aquelas que estão em regeneração. “Neste segundo objetivo, será avaliado os teores de carbono dos solos e como os organismos estão participando na dinâmica do carbono e consequentemente nas emissões de CO2 destas áreas que sofreram com as queimadas”, relatou Naelmo.

Desenvolvimento local

As primeiras expedições ainda abriram espaço para pesquisas como a do professor Alexandre Guimarães Vasconcellos, da Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Inovação, do INPI, do Rio de Janeiro. Ao participar da expedição, Alexandre buscou identificar produtos inovadores decorrentes do saber-fazer das comunidades tradicionais ribeirinhas e refletir sobre estratégias para o desenvolvimento local que aliem o modo de viver dessas comunidades, que vivem em estreita interação com o ambiente, com atividades que gerem renda. “Dentro desse contexto foram identificadas atividades de artesanato com espécies como o aguapé e a bananeira e observada a construção de instrumentos de pesca (jequi) para a captura de iscas vivas (tuviras)”, disse o pesquisador Alexandre Guimarães.

Pesquisa em saúde

Entre os pesquisadores da segunda expedição, estão os professores do curso de Medicina da UEMS de Campo Grande, Dra. Alessandra Machado e Dr. Marcos Araújo. Com o intuito de realizar o diagnóstico situacional do território das comunidades ribeirinhas localizadas no Tramo Norte de Corumbá, bem como levantamento sócio-econômico- demográfico e epidemiológico da população.

Além da coleta de dados, os professores, em conjunto com a equipe de saúde da Marinha, realizaram palestras sobre prevenção de Câncer para crianças e professores da Escola do Barra do São Lourenço, por advento do outubro Rosa e novembro Azul. “O diagnóstico situacional é uma ferramenta indispensável para reconhecimento das condições de saúde da população e posterior planejamento das ações de pesquisa, extensão para essa comunidade”, enfatizou a professora Alessandra.

Aproveitando os atendimentos em saúde realizados pelos profissionais da Marinha, os professores entrevistaram 84 pessoas, e os dados coletados estão sendo analisados. “Trata-se de uma população em vulnerabilidade em vários aspectos, diversas ações em saúde poderão ser realizadas a fim de melhorar a qualidade de vida deles”, explicou o professor Marcos.

A previsão é que a UEMS envie seus pesquisadores para novas expedições no próximo ano.


Anexos: